O PADROEIRO

A HISTÓRIA DE SÃO JOAQUIM E SANT’ANA

1. O culto
            A Igreja celebra a memória dos santos Joaquim e Ana, pais de Nossa Senhora e avós de Jesus, no dia 26 de julho, que é também o dia dos avós. O culto destes santos é bastante antigo, entre os gregos sobretudo. No oriente venerava-se Santa Ana no século VI, e tal devoção estendeu-se lentamente por todo o ocidente a partir do século X até atingir o seu máximo desenvolvimento no século XV. Em 1584 foi instituída  a festividade de Santa Ana, enquanto São Joaquim era deixado discretamente de lado. Os dois santos eram comemorados  separadamente: Santa Ana no dia 25 de julho pelos gregos e no dia seguinte pelos latinos. Em 1584 também São Joaquim achou espaço no calendário litúrgico, primeiro a 20 de março, para passar ao domingo da oitava da assunção em 1738, em seguida 16 de agosto em 1913 e depois reunir-se com a santa esposa no novo calendário litúrgico, no dia 26 de julho.

2. Sua origem e fundamentação
            Não encontramos nas Sagradas Escrituras nenhuma referência a estes santos. O evangelho só menciona o pai de José, e lhe dá dois nomes diferentes, Jacó e Eli (Mt 1,16; Lc 3,23). Porém sabemos que é fato histórico Maria ter tido um pai e uma mãe. E pelo que sabemos daquela que é a mãe do Salvador, deduzimos que seus pais são pessoas especiais por gerar e educar na fé a que foi escolhida por Deus e que recebeu a anunciação do anjo. Como disse o próprio Jesus: “Pelos frutos conhecereis a árvore” (Mt 7,16). Sabemos também que Jesus sempre teve do seu lado pessoas menos conhecidas, menos relevantes, mas próximas a ele. Dentre estas pessoas, não há dúvida que podemos colocar seus avós.

3. Quem são os avós de Jesus?
            E talvez seja por causa do que foi dito anteriormente, que a lembrança dos avós de Jesus permaneceu no imaginário do povo. A tradição cristã lá pelo ano 200, num livro conhecido como Protoevangelho de Tiago, que faz parte dos Evangelhos Apócrifos (relatos que, de forma imaginária, querem “completar” os quatro evangelhos) que não foram recolhidos na lista dos livros considerados inspirados que formam o cânon da Bíblia, deu nome aos pais de Maria como Joaquim e Ana. E esses nomes tanto se tornaram populares que ainda hoje continuamos lembrando-os. E aqui já nos deparamos com algo interessante no significado que podemos atribuir a estes nomes. A origem do nome Joaquim não está clara: pode significar “o Senhor prepara”, “o Senhor é forte”, “o Senhor fortalece”. Em compensação o nome Ana está mais claro significando graça, misericórdia.

4. Uma lenda que nos transmite uma mensagem importante
            Para além da história a lenda muitas vezes nos ajuda a descobrir mensagens importantes. Encontramos um famoso livro medieval sobre a vida dos santos, que recolhe e sintetiza todas as tradições que o autor conhece, muitas antigas e já procedentes dos Evangelhos Apócrifos. Este livro se intitula “A lenda dourada” e o seu autor Tiago de la Vorágine, na festa do nascimento da Virgem Maria, narra a seguinte história.
            Joaquim era da Galiléia, do povoado de Nazaré, e casou-se com Ana, que era de Belém. Ambos eram justos e para cumprir retamente a vontade do Senhor, dividiam em três partes o que ganhavam: uma delas davam ao templo e aos que estavam a serviço do mesmo; outra a davam aos peregrinos e aos pobres, e a terceira guardavam-na para si e para a família. Durante vinte anos de matrimônio, não tinham tido filhos, e fizeram um voto ao Senhor de que, se lhes desse um descendente, o consagrariam ao seu serviço. Para obter este favor, iam a Jerusalém todos os anos nas três festas principais.
No dia da festa da dedicação, Joaquim subiu a Jerusalém com os da sua tribo e se aproximou com os demais do altar para apresentar a oferenda. Porém, o sacerdote ao vê-lo repreendeu-o com indignação, dizendo-lhe que não tinha o direito de se aproximar do altar porque era um homem amaldiçoado pela Lei por ser estéril que não tinha feito crescer o povo de Deus e que não podia andar com aqueles que não estavam contaminados com aquela mancha.
            Joaquim ficou muito confuso e teve vergonha de voltar para casa com receio de ser novamente repreendido por aqueles de sua tribo que estavam com ele. Então, foi morar com os pastores e, após ter passado um tempo com eles, um dia quando estava sozinho apareceu-lhe um anjo resplandecente e lhe disse: “Eu sou o anjo enviado pelo Senhor para te dizer que tuas preces foram ouvidas e que tuas esmolas subiram até a presença de Deus. Vi a tua vergonha, e ouvi as censuras de esterilidade que te fizeram sem razão. Deus castiga o pecado, e não o que é fruto da natureza. E se ele fechou o ventre de uma mulher para depois torná-lo fecundo de um modo mais maravilhoso, é para dar a conhecer que a criatura que irá nascer então não será fruto da paixão, mas um dom de Deus. Sara, a primeira mulher da tua raça, acaso não teve que suportar o opróbrio da esterilidade até os noventa anos de idade? E não pôs então no mundo Isaac, a quem haviam sido prometidas todas as bênçãos?” E prosseguem as palavras do anjo, lembrando outros nascimentos inesperados e prometendo, por fim, o nascimento de uma filha, que será a mãe do Filho de Deus. Depois que a menina nasceu, completando três anos, foi oferecida ao templo conforme o voto de seus pais.

5. Concluindo
            Assim, vemos nos santos Joaquim e Ana um casal simples que colaboram com os projetos do Senhor, que nas circunstâncias de sua época, viveram sua fé de modo exemplar, partilhando seus bens, numa vida de oração e confiança em Deus, sabendo escutar e acolher a Palavra e os desígnios do Senhor. Tudo isto, levando dentro do coração a força da fé, o desejo de bondade e de fidelidade, a esperança de um futuro marcado pelo amor de Deus para com todos.
            Na Liturgia das Horas, encontramos um bonito sermão de São João Damasceno do qual transcrevemos o que segue:
            Ó casal feliz Joaquim e Ana! A vós toda a criação se sente devedora. Pois foi por vosso intermédio que a criatura ofereceu ao criador o mais valioso de todos os dons, isto é, a mãe pura, a única que era digna do Criador.
            Alegra-te, Ana estéril, que nunca foste mãe, exulta e regozija-te, tu que nunca deste à luz (Is 54,1). Rejubila-te, Joaquim, por que de tua filha nasceu para nós um menino, foi nos dado um filho; o nome que lhe foi dado é: Anjo do grande conselho, salvação do mundo inteiro, Deus forte (Cf. Is 9,5). Este menino é Deus.
            Ó casal feliz, Joaquim e Ana, sem qualquer mancha! Sereis conhecidos pelo fruto de vossas entranhas, como disse o Senhor Jesus certa vez: Vós os conhecereis pelos seus frutos (Mt 7,16).
                       
                        Contagem, 26 de julho de 2004.
                        Por ocasião da festa de São Joaquim e Sant’Ana.

Pe. Júlio César Gonçalves Amaral
Administrador paroquial da
Paróquia São Joaquim



Assistam o teatro sobre a vida de São Joaquim e Santa Ana,
que foi encenado em nossa paróquia no dia 26/07/2011.

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